terça-feira, 9 de junho de 2009

Reforme!


Reformar está na moda. Em tempos de crise, é hora de fazer as coisas que possuímos durarem mais, ao invés de simplesmente substituí-las, quando estão já gastas ou quebradas. Mas hoje isso não é tão simples assim. Há um tempo atrás, os objetos duravam um tempo maior do que os produtos atuais. E, quando quebravam, eram consertados.
Lembro-me com orgulho de meu pai, um grande consertador de coisas. Ferro elétrico, máquina de lavar, brinquedos, carros... nada escapava das mãos mágicas do sr. Dinga. Ainda bem pequena, eu ficava admirada daquele seu poder de consertar e reformar... Claro que, por conta disso, havia uma verdadeira oficina, com mil tralhas e equipamentos, em nosso quarto de empregada. Muito cacareco. Coisas que poderiam algum dia ser úteis, ou reformadas, servindo para alguém.
Hoje os objetos são basicamente descartáveis. Depois de poucos anos de vida, acabam tornando-se “obsoletos”. Como muita coisa passou a ser produzida em plástico, reformar tornou-se um problema. Sem contar que grande parte do que consumimos são produtos importados (da China, de Taiwan...), o que dificulta adquirir peças para reposição. Um bom exemplo disso: recentemente tive que me desfazer de uma máquina de lavar, com pouco mais de dois anos de uso, porque seu conserto era muito caro – acabou valendo mais a pena comprar outra. Um absurdo.
Foi por essa razão que acabou me chamando a atenção um projeto do Platform21, um grupo formado por holandeses cujo objetivo é pensar e discutir sobre como será o futuro, através do design, da arte, de performances e outras atividades reais e virtuais. Um de seus novos projetos chama-se Platform21= Repairing e proclama a reforma como a “nova reciclagem”. Eles propõem o acréscimo de um quarto “R” (“Reformar”) ao trio de atividades sustentáveis já conhecido como “Reusar, Reduzir, Reciclar”. Lançaram até um manifesto (“Repair Manifesto”) para incentivar as pessoas a redescobrirem o prazer de consertar coisas. Para o grupo, reparar objetos tem sido uma prática subestimada como força criativa, cultural e econômica. Eles desejam despertar para a consciência de uma mentalidade e prática que, até poucos anos atrás, era completamente integrada na vida social das pessoas. Consertando algum item de sua casa, você aprende sobre seu funcionamento e usa a criatividade, bolando adaptações para dar uma segunda vida ao seu objeto – que, muitas vezes, tem um valor sentimental importante.
Talvez a qualidade mais interessante da iniciativa seja dar a seus produtos um maior tempo de uso. Mas igualmente importante é o aspecto de que a reforma traz uma certa “alma” a esses produtos. A gente acaba aprendendo como as coisas funcionam e passa a cuidar melhor delas. STOP RECYCLING. START REPAIRING é a bandeira do grupo. Adorei. O link: http://www.platform21.nl/index.php?lang=en

3 comentários:

  1. Queridíssima EV
    É incrível a sua capacidade de descobrir e comentar fatos e situações as mais diversas !!! Fico admirado de ver... e ler...coisas extremamente interessantes descritas com leveza e precisão, como se as palavras fluíssem conduzidas pela batuta de uma maestrina extremamente capaz e conhecedora da sua partitura... Adorei o "Stop Recycling, Start Repairing". Totalement fantastique !!! BJocas

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  2. Assim você me deixa tímida, Kurt!... Obrigada, sempre!
    bjk

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